O conceito de que universidade
pública no Brasil sempre foi sucateada não é de hoje. Na verdade, essa imagem
foi construída desde a primeira ditadura, na Era Vargas. Em seguida, veio a dos
militares, que perdurou durante 21 anos e que deteriorou o ensino superior no
país, por entender que ele representava uma séria ameaça aos interesses do
governo militar. E eles tinham razão em pensar dessa maneira, pois vários
golpes foram planejados dentro das grandes universidades da federação.
Em pleno séc. XXI, esse boicote
ainda continua, mas de maneira velada e muitas vezes sedutora. As universidades
continuam sofrendo com o descaso por parte do governo federal e de suas
administrações, principalmente aquelas que foram inauguradas recentemente. Como
é o caso da universidade federal do Amapá (Unifap).
Perto de outras instituições, a
Unifap é uma criança aprendendo a engatinhar. Foi inaugurada em 1991 e hoje
conta com 22 cursos, distribuídos entre as áreas de saúde, humanas, jurídicas,
exatas e educação. Ao longo dos anos, cresceu de forma desordenada e sem
estrutura para atender a demanda do Estado. E agora com a “suposta”
reformulação do Ministério da educação (MEC), de 2007, denominada Programa de
apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades federais (Reuni),
esse crescimento tende a piorar. O Reuni
viabiliza ações como aumento de vagas, medidas como a ampliação ou abertura de
cursos noturnos, o aumento do número de alunos por professor, a redução do
custo por aluno, a flexibilização de currículos e o combate à evasão. O que na
prática não é bem assim.
O fato é que a unifap aderiu ao
programa, mas não segue suas diretrizes. Só no ano de 2011, a instituição
anunciou a abertura de mais dois cursos: jornalismo e relações internacionais.
Se os outros cursos já passavam por sérias dificuldades, os novos já nasceram
enfadados ao sofrimento.
A falta de estrutura para atender
os cursos é um com um “câncer” que se espalhou em diversas graduações. Desde os
cursos da saúde até os de humanas padecem do mesmo mal, estes últimos o mais
afetados.
Saúde
O que era pra ser a comissão de
frente da universidade, a área da saúde luta para manter o mínimo de estrutura
para atender determinadas disciplinas. O curso de Farmácia, por exemplo,
implantado em ..... , não possui salas para atender a todas as turmas. Os
calouros de 2012 estão assistindo aula em uma sala cedida pelo bloco de
medicina. Com 49 alunos, a sala torna-se minúscula, obrigando-os ao desconforto
pela falta de espaço. A aluna e representante da classe, Alana Tenório, diz que
é comum a falta de materiais químicos nas aulas e nas pesquisas.
Medicina também encontra as
mesmas dificuldades. Em 2009, o Jdia publicou uma reportagem sobre a
precariedade já na abertura do curso, como a falta de corpo docente e do
hospital universitário, pré-requisito básico para a implantação do mesmo.
Três anos depois, os alunos enfrentam
problemas por conta do mau planejamento feito na época. As peças para as aulas
de anatomia são escassas, além de dividirem um acervo bibliográfico minguado
entre os outros cursos da saúde. Muitas vezes, precisam tirar recursos do
próprio bolso para comprar materiais para o laboratório, como as lâminas, que
são usadas nas aulas de Histologia.
Humanas
Os primeiros cursos da Unifap
foram as licenciaturas. Algumas como Matemática, Letras, Pedagogia e História
já formaram centenas de professores no Estado. Hoje amarga com livros obsoletos
e docentes sobrecarregados. Como um tsunami, a implantação de novos cursos afetou
diretamente os mais antigos.
O ano letivo de 2012 começou no
dia 01 de Março, mas só após duas semanas, o curso de Letras iniciou as
atividades. O novo bloco, que era pra ser entregue antes no final de fevereiro,
não ficou pronto a tempo. Porém, os alunos foram retirados do antigo e
transferidos para o novo, que ainda está em obras. “Fomos expulsos do nosso
bloco. Agora estamos tendo aula em meio ao barulho das obras”, afirma um aluno
do curso. Agora quem está ocupando o antigo bloco de Letras é o curso de
Secretariado Executivo.
Jornalismo e Relações
internacionais já nasceram atrofiados. Sem blocos, precisam mendigar salas de
aula pelos corredores da universidade. Em uma semana as duas turmas de
jornalismo já mudaram 4 vezes de sala. Ora o espaço é minúsculo, ora o calor é
insuportável. Não existem livros disponíveis na biblioteca tanto pra um quanto
para o outro. Dois meses antes do início das aulas, em 2011, a coordenação de
jornalismo havia feito o pedido do acervo para a biblioteca. Após um ano de espera,
apenas uma parte chegou, e que já se encontram disponíveis para consulta. Diferentemente
do que acontece com Jornalismo – em que o quadro de docentes está completo –
relações internacionais está com carência de professores.
O que diz o DCE?
Segundo o coordenador geral do
Diretório central dos estudantes (DCE), Carliendel Magalhães, O que a
universidade peca muito hoje é o planejamento a longo prazo, e Infelizmente ela
se apega ao imediatismo e ações não planejadas.
“Isso trás um descaminho para a
instituição. O exemplo clássico disso é a corriqueira implantação de novos
cursos. A estrutura física não acompanha o ingresso de novos acadêmicos e de
novos cursos. Isso reflete na falta de salas, quadro técnico, falta de
professores, espaço laboratorial, acervo bibliográfico”, afirma Carliendel.
O coordenador afirma ainda que o
Reuni obriga as universidades a criarem novos cursos. Se antes do Reuni, a
universidade abria mil vagas, depois adesão ao programa, precisa abrir duas mil
vagas. Sendo que o acréscimo no repasse do orçamento é de apenas de 20%. Se
dobra o número de alunos, o aumento de recursos têm que ser duplicado também.
“Ano passado conseguimos frear a
entrada de dois novos cursos por entender que a unifap que não possui
estrutura. A sociedade acha que é um retrocesso, mas na verdade é uma medida de
contensão a desestruturação da instituição”.
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