domingo, 18 de julho de 2010
Dessa fonte eu beberei
Outro dia, numa comemoração na casa de um amigo, ouvi uma moça cantando um pagode recente. Achei parecido com um sambinha do Noel Rosa. Perguntei se ela cantava Palpite infeliz, e ela disse que não conhecia Noel Rosa, nunca tinha ouvido falar. É até compreensível que uma adolescente de 15 anos não conhecesse Noel Rosa. Mas quem compôs a música na qual ela cantarolava, provavelmente deve conhecer. E o compositor na qual ele escutava com 16 anos deve conhecer mais ainda.
Quando ligamos a tv, principalmente dia de domingo, vemos uma verdadeira salada musical. Vai de sertanejo, pagode, forró, funk e até pop rock(?). Programas cheios de mulheres bonitas na fila da frente, porque as feias, que completam a pláteia, são colocadas pra trás. Sempre muito animadas e de sorriso aberto, sabem de cor todas as canções das atrações. Nas festas de peão, milhares de pessoas cantam os maiores sucessos sertanejos da atualidade. E dentro de uma pagodeira não é diferente, que ainda toca os velhos e novos hits, o que “fácil” confundir samba com pagode. O pop rock é o mais lamentável. O grande arauto da liberdade é mutilado e sem referências significativas. Garotos de classe média ganham a primeira bateria, aquela guitarra com cara de velha, aprende três acordes e já monta uma banda com um punhado de letras que uma criança de cinco anos de idade poderia ter escrito.
E assim, vemos o início da primeira década do século XXI como uma das piores de toda a história da música. Sem inspiração, sem vida, sem aquele salvador proposto no post anterior. Por que será? Por falta de criatividade? Preguiça? Falta de talento? Ou o problema está nessa geração que não se aproveita do seu legado musical?
Do nordeste da década de 40, Luiz Gonzada já tocava o seu pé de serra, criando o baião no sertão de Pernambuco. Hoje, dezenas de grupos de forró fazem referência ao sanfoneiro, como a grande inspiração(inspiração onde, de quem?) Na região sudeste, na mesma época de Gonzaga, Tonico e Tinoco faziam suas primeiras apresentações pelo interior de São Paulo com “tristeza do Jeca”. Muitas duplas sertanejas prestam homenagem à Tonico e Tinoco, reconhecendo-os como a maior dupla sertaneja(mas continuam fazendo músicas mela cueca).
O rock no Brasil é um caso complicado. Cenário recheado de figuras até mundialmente idolatradas, como é o caso dos Mutantes. Palco da rebeldia na transição da ditadura para democracia, impulsionada pelo Punk londrino dos Sex Pistols e o americano dos Ramones, nascia Blitz, Heróis da Resistência, Camisa de Vênus, Ira!, Plebe Rude, Legião Urbana, Capital Inicial e Titãs, bandas que floresceram na década de 80 no Brasil. Mas já no início da década de 90, várias delas já não tinham o mesmo gás e algumas finalizaram a carreira. Hoje o que sê vê é um monte de garotos sem atitude, sem verdade, sendo manipulados por produtores musicais altamente comerciais.
Bem, onde quero chegar? Parece complicado, mas é simples. Em um país, onde deu origem a Bossa Nova, com um dos compositores mais aclamados como Tom Jobim, onde um semi analfabeto como o Cartola escreveu: “bate outra vez com esperanças o meu coração...”, a produção musical brasileira nesse início de século é uma lástima. Claro, salvando algumas caras e vozes que aparecem. Mas no geral, é tudo muito previsível, enlatado. Onde estão os cometas? Cadê a essência das novas gerações? Não bebem da fonte dos grandes mestres? Onde vamos parar, meu Deus?
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