Foto: Heverton Mendes
Olhando de longe parece ser uma ponte como outra
qualquer, com os problemas estruturais e os fatores de risco de sempre.
Mas quem se atreve a percorrer os 200m da ponte e conhecer a realidade
das pessoas que se submetem a morar em lugares onde a condição humana
deixou de ser levada em conta há muito tempo? A última coisa que a av.
Antônio Carlos Reis pode se atrever a ser é uma via que liga um bairro
ao outro. Jardim Felicidade de um lado, Novo Horizonte de outro.
Em
toda a extensão da passarela os moradores correm o risco de sofrer
acidentes. Várias tábuas simplesmente se soltaram, deixando “buracos” no
meio do caminho. Em alguns trechos, a impressão que se tem é a ponta
vai tombar para dentro do lago – lembra até aquele quadro famoso do
programa Domingão do Faustão, chamado “A ponte do rio que cai”. Adultos e
crianças dividem a mesma passarela com bicicletas e motos, estas
últimas chegam a andar em alta velocidade. O que, aliás, é um dos
motivos no qual a ponte se encontra perigosamente torta. Se pela manhã
já é complicado desviar dos obstáculos, difícil mesmo fica à noite, em
que a iluminação das casas não ajuda nem um pouco quem tenta visualizar
qual o melhor lugar para colocar o pé.
Área de ressaca
Área de ressaca
Carlos Roberto é eletricista, mora há
15 anos na avenida e diz que já presenciou inúmeros acidentes envolvendo
crianças, inclusive com mortes. Uma criança de 7 anos, com problemas
físicos, foi olhar pela janela e caiu no lago. Morreu afogada.
“Eu
já vi criança cair no lago, ou por acidente ou para sair da frente das
motos. Os pais também não têm nenhum cuidado com a segurança das
crianças. Quando vê, elas já caíram.”
Carlos conta ainda que a
maioria das instalações elétricas da avenida é clandestina. Como o poste
da Companhia de eletricidade do Amapá (CEA) não chega em todas as
casas, os moradores puxam “gatos” para as residências.
É o mesmo
caso da água que é consumida. Os canos disponibilizados pela Companhia
de água e esgoto do Amapá (Caesa), vão até no início da via. Com
recursos próprios, os moradores das margens da ponte compraram os canos e
instalaram um sistema hidráulico a céu aberto. Por a ponte passa, é
possível notar a presença de tubulação interligando todas as casas.
Saneamento
básico é luxo por esses lados. Os dejetos são jogados diretamente no
lago. Em períodos chuvosos, é comum o nível da água subir e invadir as
casas, expondo a saúde de crianças e idosos a todo o tipo de doença.
E
além de doenças, o aparecimento de animais silvestres preocupa quem não
outra escolha de moradia. As áreas de ressaca na cidade de Macapá
possuem diversos biomas naturais. Ao jogar lixo doméstico e dejetos nos
lagos, causam desequilíbrios no ecossistema. Mas afinal, quem está
invadindo o espaço de quem?
Uma moradora relatou que após uma
chuva, um jacaré foi capturado na ponte. “Tomei um susto quando vi o
jacaré. Graças a Deus, ninguém se machucou”.
Sofrimento
Sofrimento
A dona de casa Rosilda
Soares cuida da irmã com problemas mentais. Ela conta que em dias de
crise, precisa chamar os bombeiros para levá-la ao hospital e ser
medicada. Porém, raramente vão buscá-la, obrigando-as a andar até a
beira do asfasto, correndo o risco de cair da ponte.
“É muito difícil
levar. São 4 pessoas para levá-la até a ambulância. Se tivesse uma
passarela boa, tinha como eles trazerem alguma coisa pra ajudar, mas não
pode. E não sou só eu que passa por dificuldades aqui. Tem cadeirante
que sofre pra sair pela ponte”, diz ela.
Segundo o morador Paulo
Rogério Dias, a situação da área já foi pior, pois antes da avenida ser
afastada, até quem mora na parte aterrada, sofria com a lama. E diz que
se o poder público disponibilizar o material para a reforma da ponte, os
próprios moradores se uniram, em forma de mutirão, para reformá-la.
“Não podemos ficar esperando a boa vontade das autoridades. Então, se eles derem o material, nós faremos a reforma”, afirma Paulo.
“Não podemos ficar esperando a boa vontade das autoridades. Então, se eles derem o material, nós faremos a reforma”, afirma Paulo.
Carlos
Roberto tem consciência de que o aterro das ressacas é uma das causas
para o aumento da temperatura na cidade, mas diz que o poder público
poderia ter evitado a ocupação das áreas se tivesse um plano de
urbanização.
“Agora o jeito é tentar melhorar a vida das pessoas do
jeito que dá. Por que aqui na esquina tem ônibus, padaria, escola. Quem
vai quer sair daqui pra ir para um lugar mais longe ainda?”. Pois é,
quem?
Por Jackeline carvalho Da
Redação
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