quarta-feira, 21 de março de 2012

Moradores das áreas de ressaca voltam a reclamar

Foto: Heverton Mendes
 
Olhando de longe parece ser uma ponte como outra qualquer, com os problemas estruturais e os fatores de risco de sempre. Mas quem se atreve a percorrer os 200m da ponte e conhecer a realidade das pessoas que se submetem a morar em lugares onde a condição humana deixou de ser levada em conta há muito tempo? A última coisa que a av. Antônio Carlos Reis pode se atrever a ser é uma via que liga um bairro ao outro. Jardim Felicidade de um lado, Novo Horizonte de outro.
 
Em toda a extensão da passarela os moradores correm o risco de sofrer acidentes. Várias tábuas simplesmente se soltaram, deixando “buracos” no meio do caminho. Em alguns trechos, a impressão que se tem é a ponta vai tombar para dentro do lago – lembra até aquele quadro famoso do programa Domingão do Faustão, chamado “A ponte do rio que cai”. Adultos e crianças dividem a mesma passarela com bicicletas e motos, estas últimas chegam a andar em alta velocidade. O que, aliás, é um dos motivos no qual a ponte se encontra perigosamente torta. Se pela manhã já é complicado desviar dos obstáculos, difícil mesmo fica à noite, em que a iluminação das casas não ajuda nem um pouco quem tenta visualizar qual o melhor lugar para colocar o pé.

Área de ressaca
 
Carlos Roberto é eletricista, mora há 15 anos na avenida e diz que já presenciou inúmeros acidentes envolvendo crianças, inclusive com mortes. Uma criança de 7 anos, com problemas físicos, foi olhar pela janela e caiu no lago. Morreu afogada.
 
“Eu já vi criança cair no lago, ou por acidente ou para sair da frente das motos. Os pais também não têm nenhum cuidado com a segurança das crianças. Quando vê, elas já caíram.”
 
Carlos conta ainda que a maioria das instalações elétricas da avenida é clandestina. Como o poste da Companhia de eletricidade do Amapá (CEA) não chega em todas as casas, os moradores puxam “gatos” para as residências.
 
É o mesmo caso da água que é consumida. Os canos disponibilizados pela Companhia de água e esgoto do Amapá (Caesa), vão até no início da via. Com recursos próprios, os moradores das margens da ponte compraram os canos e instalaram um sistema hidráulico a céu aberto. Por a ponte passa, é possível notar a presença de tubulação interligando todas as casas.
 
Saneamento básico é luxo por esses lados. Os dejetos são jogados diretamente no lago. Em períodos chuvosos, é comum o nível da água subir e invadir as casas, expondo a saúde de crianças e idosos a todo o tipo de doença.
 
E além de doenças, o aparecimento de animais silvestres preocupa quem não outra escolha de moradia. As áreas de ressaca na cidade de Macapá possuem diversos biomas naturais. Ao jogar lixo doméstico e dejetos nos lagos, causam desequilíbrios no ecossistema. Mas afinal, quem está invadindo o espaço de quem?
 
Uma moradora relatou que após uma chuva, um jacaré foi capturado na ponte. “Tomei um susto quando vi o jacaré. Graças a Deus, ninguém se machucou”.

Sofrimento
 
A dona de casa Rosilda Soares cuida da irmã com problemas mentais. Ela conta que em dias de crise, precisa chamar os bombeiros para levá-la ao hospital e ser medicada. Porém, raramente  vão buscá-la, obrigando-as a andar até a beira do asfasto, correndo o risco de cair da ponte.
 
“É muito difícil levar. São 4 pessoas para levá-la até a ambulância. Se tivesse uma passarela boa, tinha como eles trazerem alguma coisa pra ajudar, mas não pode. E não sou só eu que passa por dificuldades aqui. Tem cadeirante que sofre pra sair pela ponte”, diz ela.
 
Segundo o morador Paulo Rogério Dias, a situação da área já foi pior, pois antes da avenida ser afastada, até quem mora na parte aterrada, sofria com a lama. E diz que se o poder público disponibilizar o material para a reforma da ponte, os próprios moradores se uniram, em forma de mutirão, para reformá-la.
“Não podemos ficar esperando a boa vontade das autoridades. Então, se eles derem o material, nós faremos a reforma”, afirma Paulo.
 
Carlos Roberto tem consciência de que o aterro das ressacas é uma das causas para o aumento da temperatura na cidade, mas diz que o poder público poderia ter evitado a ocupação das áreas se tivesse um plano de urbanização.
 
“Agora o jeito é tentar melhorar a vida das pessoas do jeito que dá. Por que aqui na esquina tem ônibus, padaria, escola. Quem vai quer sair daqui pra ir para um lugar mais longe ainda?”. Pois é, quem?
 

Por Jackeline carvalho Da Redação

Nenhum comentário: