A primeira sensação que eu tive quando escutei os primeiros riffs dos Rolling Stones, foi de que minha vida não seria mais a mesma. Poderia ter escutado e não sentido nenhuma diferença. Como qualquer outra canção que escutamos e nos passa despercebida. Aí escutei Jimi Hendrix, Janis Joplin, Led Zeppelin com o mesmo ouvido curioso e me perguntando o que seria esse comichão que a gente sente no pé, na palma das mãos, e que faz você querer chutar a parede. Como explicar isso para uma criança de oito anos de idade, que está fuçando escondida os cd’s do cunhado? Realmente eu não entendia, mas eu sentia, e era isso que importava. Sentava na frente do som e passava um tempão pra decifrar quem era quem na Capa dos cd dos Beatles. Todos vestidos como músicos de banda militar. Ou achando que colocaram Jesus cristo na capa do cd do The Doors.
Um dia meu cunhado me flagrou escutando Pink Floyd. Tinha uma capa sóbria, uma parede pichada com o nome do álbum. E a segunda música tinha um barulho de helicóptero no fundo. Nossa, que legal. Como esses fizeram isso? Então Jair veio me contar a história de cada cd que eu tinha escutado até então. Disse que não era Jesus cristo aquele cara de braços aberto na capa do Doors, era o vocalista mesmo. Que cada rostinho na capa dos Beatles tinha um significado, ou então a causa mortis de cada um dos roqueiros daquelas bandas . Eu poderia ficar chocada, nunca mais querer escutar aquela música que me dava vontade de arremessar as caixas do micro system no chão. Mas aconteceu o contrário: quanto mais eu escutava, mais eu queria saber sobre todos esses caras loucos e inconseqüentes.
Assim, garimpei tudo o que estava ao meu alcance, como se aquilo fosse uma droga e que eu precisava alimentar o meu vício. Aquelas capas, com aqueles caras foram a porta de entrada para um mundo onde jamais imaginei que pudesse existir e muito menos com trilha sonora : o mundo do rock.
O rock foi feito pra todos, mas nem todos foram feitos pro rock. Precisa ter alma, essência, atitude. Não é qualquer pessoa que escuta e já sai embasbacado com um solinho de guitarra. Você não escolhe o rock como estilo musical, ele te escolhe. E quando você escolhido, você nunca mais se livrará dele, e ele sempre estará com você e dentro de você. Então você sai de casa e se depara com outra pessoa que gosta de rock. Pode até não estar escrito na testa dela, mas você sabe, porque não são palavras que vão dizer que justo aquele garoto gosta e ouve rock, são os seus gestos. Os gestos te dirão, e assim palavras tornam-se meras convenções. Pronto, sua alma se conectou a outra pela música. Em nenhum outro estilo musical acontece com tanta intensidade. Justamente por ser essa coisa mágica, que nos faz interagir e dividir o que temos e o que somos com o outro.
Imagine o mundo sem o rock? Seria submisso, obediente, calado, sereno, em que até o canto de um passarinho seria um concerto. Não haveria revolução, não haveria desejo. Ou você acha que dá vontade de transar ouvindo Chopin? O mundo seria mais limpinho, mas um limpinho tão limpinho, que não teria tanta graça. As roupas seriam bem passadas e engomadas, os cabelos com gel e penteados pra trás, as calça bem alinhadas com os cintos combinando com o sapato. O mundo quer que você seja aquilo que você não é, e o rock vem te dizer que você pode sim, ser tudo aquilo que você é dentro da sua verdade.
Porém, o mundo parece estar vencendo essa batalha, com suas ofertas mercadológicas, em que mais e mais pessoas se rendem e esquecem que o seu papel é despertar tudo aquilo que está adormecido dentro de nós. E como ficarão as próximas crianças de oito anos? O que elas escutarão, pelo que se apaixonarão? Só nos resta guardar nossos cd e LP’s num baú, para que os homens maus não os confisquem, com medo de nós, os escolhidos, subverterem seus filhos e assim perpetuar a nação dos roqueiros espalhados pelo globo terrestre.
Parabéns, meu amigo, eu não sei o que seria de mim sem você!
Um comentário:
Jacke adorei esse texto, realmente reflete a importância do nosso amigo Rock´n´roll para esse mundo, que sem ele seria tão sem graça rsrs. Velho, que nada, o rock nunca envelheçe, vira clássico \m/. Me despeço ao som de AC/DC bjus
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