Outro dia conversava sobre jornalismo com um curioso na mesa do Copacabana, aquele bar que mais parece um aquário, que fica na Odilardo Silva. Então a pessoa falou sobre imparcialidade. Aí eu perguntei se ele sabia o conceito de imparcialidade. Bem, enrolou, disse alguma coisa, mas não convenceu. Infelizmente tem muita gente que acha que jornalista é imparcial. Não é bem assim.
Imparcialidade no jornalismo quer dizer que você não vai emitir opiniões, não vai tomar partido de ninguém, não vai tendenciar os fatos. Vai passar a informação tal como ela é. Esse é o conceito que a maioria conhece – e até alguns jornalistas formados e experientes acreditam nele -, mas que está obsoleto à muito tempo.
Imagine que seu avô lhe contou uma história que aconteceu na juventude dele. Aí você chega na escola e vai contar para os seus amigos. Você lembra de toda a história, mas enfatiza aquilo que você achou mais legal. Não deixou de contar os fatos, não inventou, foi honesto com a informação, mas ao contar o fato, direcionou para aquilo que era mais interessante pra você. Aí já não é ser imparcial. A mesma coisa acontece no jornalismo. A partir do momento em que a informação é passada, ela já toma os moldes da sua mão. O fato foi passado, com as informações corretas, no entanto com sua visão do acontecimento.
Em outro momento da conversa, a mesma pessoa falou de liberdade de expressão que o jornalista tem. Outro mito que as pessoas carregam consigo. Não existe liberdade de expressão quando se trabalha em uma empresa em que possui uma editoria. Exemplo claro é caso das revistas Veja e IstoÉ. A Veja é oposição ao governo. Muitos escândalos do Governo Lula foram divulgados através dessa revista semanal. Já a IstoÉ, também semanal, é pró-governo. Na campanha da então candidata à presidência da república, Dilma Rousseff, várias capas da IstoÉ foram destinadas para compor o perfil de uma candidata tão desconhecida. Falou da sua descendência romena, da época em que era militante no período da ditadura militar e a tortura que sofreu nos porões do DOC-CODI.
Agora, se dentro da IstoÉ tem um jornalista que é oposição, ele vai se calar e seguir a linha editorial da revista. Isso já não é liberdade de expressão. Não precisamos ir muito longe. Aqui no Amapá mesmo existem jornais que não pode falar bem do governo do estado, assim como também tem aqueles que não podem falar mal. Os que falam bem, é porque recebem dinheiro decorrente de publicidade, e os que falam mal é porque o governo não tem vínculo financeiro e faz de tudo para abocanhar uma fatia da torta. Não podemos esquecer que quando escrevemos e preparamos uma reportagem, somos a voz do veículo de comunicação para o qual trabalhamos, o que já restringe a opinião pessoal do jornalista.
Agora imagine que a maioria dos meios de comunicação do Brasil está nas mãos de políticos. José Sarney é dono dos retransmissores da Globo e do SBT e dos principais jornais impresso e emissoras de rádio do estado do Maranhão. A família de Antônio Carlos Magalhães também é detentora de sete afiliadas da Globo e várias emissoras de rádio na Bahia. Fernando Collor também possui jornais e filiais em Alagoas. Isso foi só um dos exemplos, mas que acontece em maior ou em menor grau em quase todos os estados do país. Agora uma pergunta: como ter liberdade de expressão, se o dono do veículo para o qual você trabalha pode vir a ser uma reportagem em potencial?
No entanto, os grandes jornais acordaram para um fato: os jornalistas acharam uma válvula de escape para suas posições. Hoje, diversos nomes do meio jornalístico escrevem em seus blogs aquilo que não escreveriam nos seus respectivos trabalhos. Acontece que, na linha de raciocínio das grandes empresas jornalísticas, o público pode achar que os blogs pessoais refletem a opinião do jornal ou emissora para o qual o dono do blog trabalha. E essas mesmas empresas estão restringindo o uso dos blogs entre os seus funcionários. Um claro exemplo de censura.
Então, achar que jornalista é imparcial ou que tem liberdade de expressão é um erro muito cometido por aqueles que enxergam a profissão com um olhar romântico. Romantismo existia quando os jornalistas desciam no bar do Estadão, no centro de São Paulo, entre um fechamento de edição, para beber pinga, fumar uma carteira de cigarro e jogar baralho.
Um comentário:
Gostei.
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