quinta-feira, 21 de julho de 2011

Jornalista ThunderCat



Quando entramos para o curso de jornalismo, a primeira expectativa é aprimorar nossa escrita, aprender a ter intimidade com a nossa língua e as técnicas jornalísticas. Começar um estágio, seja na TV, no impresso ou no radio, aprendendo na prática o que é ensinado na sala de aula. Imaginando que 60% dos alunos tenha vocação para a profissão, isso se torna um prazer. Agora como desenvolver um olhar mais atento, a curiosidade pela notícia, aquele faro que todo o jornalista tem?

Geralmente o curso começa com matérias obrigatórias, como em qualquer outro curso: filosofia, sociologia, antropologia. E sempre são relegadas para o segundo plano. As mais importantes são aquelas que têm aplicação direta na profissão. Passamos o período acadêmico tentando buscar esse olhar curioso, inovador e intuitivo que o jornalista deve ter, mas o que não nos damos conta, talvez por culpa nossa ou por culpa do professor, é que esse faro jornalístico se aperfeiçoa justamente nessas disciplinas que são jogadas para debaixo do tapete. Em especial, a antropologia.

O olhar diferenciado do profissional é o que o destaca no mercado. Uma notícia é apenas uma notícia aos olhos de outros jornalistas, mas pra esse que possui “Olho de Thandera”, existe um brilho muito maior, coisa que só ele enxerga. Um buraco numa rua pode ser só mais um buraco, mas para o jornalista meio “X-Man”, torna-se uma ótima pauta. Mas porque alguns possuem esse olhar e outros não?

Voltemos para a antropologia, que, aliás, deveria estar na grade do ensino médio no país, assim como a filosofia. Por que faz você olhar pra si mesmo com neutralidade, ou melhor, com alteridade. É enxergar você em relação ao outro, sem superioridade, sem preconceito, desatrelado aos conceitos de civilização e barbárie. É basicamente você enxerga seu mundo com os olhos de uma criança. No livro O mundo de Sofia, do escritor norueguês Jostein Gaarden, fala que a filósofo tem os olhos de uma criança, com o espírito questionador e que se impressiona sempre. Assim é na antropologia também, é o ser humano ter a capacidade de se admirar com a diferença do outro.

No livro Reportagem na Tv, Alexandre Carvalho relata o caso de uma editora que recebeu uma sugestão de pauta de um repórter a respeito dos buracos na cidade de São Paulo. Como a emissora em que eles trabalhavam era de âmbito nacional, ela achou melhor passar para o jornal local. Entregou a sugestão para outra repórter, que por sua vez se recusou a fazê-la. Passados alguns dias o autor da pauta perguntou para a editora se tudo tinha dado certo. E ela contou que a repórter havia se recusado a fazer por achar que a pauta era de pouca importância. O repórter colocou sua pauta debaixo do braço e não só fez a matéria como a transformou numa série especial para o jornal local.

Contar uma história, todo mundo conta. O segredo é como contar a história. Que ferramentas usar para deixar sua história mais atraente que as outras? No caso acima, o repórter observou elementos que a jornalista não prestou atenção e ainda achou o que o assunto não renderia uma boa matéria. Agora diz que antropologia não é importante?

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