Mesmo sendo um assunto que ainda está em voga, a morte de Amy Winehouse gera um outro ponto de discussão que está se tornando clichê. Mas será que devemos torná-lo clichê? Será que devemos banalizar tal debate?
25 de Junho de 2009, o mundo fica estarrecido com a morte de Mickael Jackson. Com uma mega turnê pela frente, ninguém esperava que o rei do pop fosse ter um fim tão trágico e inesperado. Mas quem não ficou nada triste com a notícia foi a mídia. Com seu instinto necrófilo, se empapuçou e cansou o público explorando ao máximo a notícia. Por que ela vive disso, se alimenta explicitamente de tragédia. Durante meses, Mackael ainda rendia bons índices de venda de tiragem de jornais e audiência. Um documentário foi lançado, as lojas desencalharam Trhiller, Bad e outros cd’s do astro pop. Tudo o que se poderia vender com o nome de Mickael estava no mercado. E era preciso ser rápido, antes que outra celebridade morresse.
Mas como explicar essa comoção pela morte de alguém que durante anos foi execrado pela mídia e pelo público, sendo acusado mais uma vez de pedófilo e drogado?Que forçou o desenvolvimento do vitiligo para ficar branco, que estava devendo até o que não tinha? E essa mesma mídia anunciando o sepultamento de uma carreira brilhante? A indústria do entretenimento é ávida por enterros, porque gera muito dinheiro, é sempre muito lucrativo quando uma celebridade morre. Quer números? Segundo a revista BillBoard, até 19 de junho de 2011, mais de 10 milhões de cd’s foram vendidos, gerando mais lucro pós-morte que o rei do rock, Elvis Presley, morto em 16 de agosto de 1977. O documentário Is this It rendeu US$ 261 milhões em todo mundo. E a mesma revista estima que a morte de Mickael venha a bater a marca de US$ 1 bi. Explicada a sede necrófila?
Você já foi em aniversário de criança, em que as mães colocam uma bexiga enorme, cheia de balas e brindes, e você fica esperando estourarem pra poder pegar o máximo de balas possível? Era assim que a mídia estava em relação à Amy Winehouse. Para muitos, até para sua própria mãe, sua morte era só uma questão de tempo. Cada aparição de Amy pelas ruas de Londres era um bônus extra no salário dos tablóides, porque sempre gerava altas vendas nas bancas. O sadismo da mídia não a deixava perceber que aquele ser humano de voz brilhante precisava de ajuda. E quanto mais a imprensa especulava sobre sua vida autodestrutiva, o poço para Amy ficava mais fundo. Com um histórico de auto-estima baixa, toda vez que saiam reportagens sobre alguma baixaria, escândalo e consumo abusivo de drogas, Amy se conscientizava que sua vida não valia mais que alguns milhares de jornais vendidos. Onde está a necrofilia aí? Começou muito antes de Amy morrer. Segundo o tablóide The Dally Mirror, sua gravadora, a Universal, tem material para gravar mais três álbuns da cantora. Precisa de um polvo Paul ou mãe Dinah pra adivinhar que eles estavam arquivando material para lançamento póstumo? Claro que não.
A morte de Amy não foi surpresa para a maioria de seus fãs, e que com certeza choram sua partida prematura. Soa meio Capitão Nascimento, mas todos nós temos uma parcela de culpa, porque somos nós que alimentamos essa indústria sanguinária, fomos nós que financiamos a morte em vida de Amy, fomos nós que cavamos o seu poço sem fundo. Alguém pode levantar e dizer: mas ela não queria se salvar. Morreu porque quis. Será? Quantos de nós não temos um amigo que precisa de ajuda, que tem problema com drogas ou com álcool? O que nós fazemos nesse caso, ajudamos, ficamos de braços cruzados? Talvez uma pessoa só não ajude muito, mas milhões de pessoas podem salvar ou matar. É triste saber que dentro da profissão de jornalista, existam pessoas que esquecem o conceito de amor ao próximo – sem afetações religiosas -, e que para pagar a prestação de sua casa ou bancar as suas férias de verão, tenha que matar alguém. Agora eu entendo o que Nietzsche queria dizer quando escreveu que Deus está morto porque nós o matamos.
Bem, mande o próximo funeral!!!
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