sábado, 7 de maio de 2011

O gosto do sangue!



O que seria da mídia sem as grandes catástrofes nacionais? O que seria do circo espetacular que nossos telejornais preparam sem as enchentes, deslizamento de terra,terremoto? No caso, foi uma chacina dentro de uma escola, a primeira da história do país.

Ainda sob o efeito do terremoto do Japão, a imprensa ainda rodeada pela carniça dos mortos e feridos do outro lado do mundo, quando, de repente, um adolescente com transtornos psicológicos, invade uma escola do subúrbio do Rio e mata 12 crianças e deixando mais 12 feridas. Pronto, um novo fato acontece para alimentar a sede de sangue e tragédia no qual alimenta a mídia. Primeiro começam com uma abordagem novelesca – visível nos telejornais da Globo, onde lágrimas dispensam palavras -, com uma mãe chorando pela perda do filho, a avó passando mal ou o tio descrevendo o quanto a criança era dedicada à família e a escola. Programas inteiros são destinados ao assunto, na linha Fantástico ou Jornal Nacional, em que precisam reavaliar de última hora o que vai ao ar e o que pode ser descartado para dar lugar à tragédia. Começam as especulações sobre o provável motivo do assassino, seu modo de vida, seus amigos, seu trabalho. Ainda temos quanto tempo? Ah, ainda dá pra explorar mais.

O assassino é estudado melimetricamente, as crianças mortas são enterradas, as famílias ainda choram suas perdas. A tragédia está perdendo força. Questões como bullying, terrorismo, exclusão social. Mais alguns dias a mídia ainda dá seus suspiros em torno do tema. Alguma entrevista exclusiva com um sobrevivente, onde a criança precisa lembrar cada detalhe, cada fato; com alguém da família do assassino, cartas achadas com alguma novidade. Se não houver mais novidades, o tiro de misericórdia é a missa de sétimo dia. Por que a bolsa voltou a subir, o preço da cesta básica também subiu, a indústria da estética criou outro método de emagrecimento rápido e fácil.

Não, as crianças não vão esquecer daquele rosto doentio com uma arma na mão; não, as mães não vai esquecer seus filhos mortos no chão da escola, com suas mochilas e cadernos manchados de sangue. Mas eu, você e todos que acompanharam, vão continuar levando uma vida normal, com contas pra pagar, trabalho da faculdade pra fazer, filho pra criar. E a mídia? Bem, ela vai atrás de outra comoção nacional, que venda, que atraia, que prenda. É disso que ela se ela se alimenta. E sem olhar pra trás, parte para mais uma caçada.

Estados Unidos, dia 21 de Abril: tornados destroem pelo menos sete estados da região sul do país matando 45 pessoas....

E assim, o ciclo de tragédias continua, para a felicidade de uma mídia meio Hannibal Lecter, meio Isabel Báthory, a condessa sangrenta.

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