terça-feira, 9 de março de 2010
As fitas da minha vida
Em meados da década de 90, a cidade de macapá, no estado do Amapá, era apenas mais uma capital apêndice, onde a maior renda da população era o serviço público. E em segundo lugar, vinha uns gatos pingados comerciantes, que faziam a festa dos servidores do governo que não tinham onde gastar seu dinheiro.
Meus pais eram comerciantes, mas não muito afortunados, de fato. Cresci numa família classe média(para padrões amapaenses), estudando em escola pública, jogando bola na rua e empinando pipa com os garotos no asfalto. Porém, desde cedo a música fazia parte da minha vida. Capitando o que havia de melhor dos gostos musicais dos meus irmãos, comecei a moldar os meus. Ouvir pela primeira a vez a voz daquela mulher foi como se o céu se abrisse pra mim. Janis rasgou meus ouvidos como um cirugião. Diante daquele “tecladinho”, me deleitei ouvindo The Doors, sem falar naquele paulista com alma carioca, tímido de olhos verdes, que eu me apaixonei de cara. Chico pra mim era um deus que veio me trazer a palavra. Não tinha mais de onze anos de idade.
Entrando na adolescência, completamente dura em sem mesada dos pais(macapá não tem essa cultura de mesada. Pelo menos comigo e meus amigos não tinha), estava faminta por coisas novas. Mas como comprar cd numa cidade onde só tinha uma loja e ainda sim o preço era um absurdo? Em 1996, computador era coisa de rico, alto luxo. Gravadora de cd então, coisa de milionário. O jeito era partir para as fitas K-7. Com 10 reais eu comprava 7 fitas. A marca era TDK. A melhor que havia.
Saía em verdadeira peregrinação pelas casas dos amigos que tinham os cd’s das bandas que eu mais gostava. Ramones, Pearl Jam, Cranberries, Smashing Pumpkins, The Beatles, REM, Depeche Mode... Datilografava na minha velha máquina de escrever o nome da banda e do disco naquele “encarte” que vinha na fita. Tudo organizado. Às vezes rolava até um release na contra capa! Eram como filhas, morria de ciúmes se alguém pedisse alguma emprestada. Preguei até uma prateleira no meu quarto para deixá-las enfileiradas. E não tinha essa de pular música, tinha que escutar a fita inteira, porque batia uma preguiça ficar procurando a favorita, tinha que deixar rolar.
Agora com 25 anos, com dinheiro no banco, internet sem fio em casa, e vários gigas disponíveis, baixo todos os cd’s que quero(santo pirate bay), dentro de apenas alguns minutos. Tive que me desfazer daquelas que me acompanharam durante minha adolescência, quando saí de Macapá para morar em São Paulo, e que até dois anos atrás me distraíram durante minhas caminhadas noturnas pela Av. Paulista. Se sinto saudades? Melhor nem responder.
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