sábado, 20 de março de 2010

Tal pai, tal filha.

Há alguns dias atrás duas clientes entraram na livraria que eu trabalho e foram para a sessão infantil com seus respectivos filhinhos. Fussaram alguns livros de contos, historinhas pra ninar, etc. Eu estava ao lado, dando entrada em notas de editoras, o que tornava inevitável eu ouvir a conversa das duas.
- O Lucas dorme na mesma posição que o Flavio, de barriga pra cima...
- O Alessandro já dorme sem roupa, e o Thiago pegou a mesma mania.
Compreendi que elas falaram sobre seus maridos e o que os filhos tinham herdado de cada um. Tentei voltar para meu trabalho, mas comecei a me questionar o que eu teria do meu pai.
Apesar de morarmos juntos, nós fomos criados como irmãos, pois aos dezessete anos ele engravidou uma menina do bairro e eu nasci. Sem dinheiro próprio e sem trabalho(playboy não trabalha enquanto o pai tem dinheiro, não é?), acabei sendo adotada pelos meus avós paternos. Não me lembro dele falando para os amigos que eu era filha dele. Acho que sentia vergonha. Só depois de adulta é que senti uma certa satisfação em sua voz ao falar que eu era a mais velhas das suas três filhas(as outras duas foram feitas sob encomenda e embaladas para presente).
Parei completamente de fazer o que estava fazendo, apenas fingia que fazia. E assim, dei um salto no passado para lembrar de como meu pai é. Nossa, faz 5 anos que não nos vemos, já não lembro de muita coisa(o que não é de todo ruim). Mas consegui lembrar de alguns detalhes, sim. O jeito de meter a mão nos cabelos; o jeito de dormir na cama, com as pernas dobradas que geralmente ocupam um espaço maior(o Wesley sempre reclamava); lamber o dorso do garfo; misturar o caldinho de feijão com purê de batata; achar que só o que é seu é que presta, e que se as pessoas não tem um gosto parecido com o seu, então elas não tem bom gosto; de ser pão duro declarado(eu tenho meus momentos mão de vaca, mas não sempre); a dificuldade em demonstrar que ama... Bem, acho que lembrei de muita coisa até. Pena que só me lembro das coisas ruins, queria poder me lembrar das boas também(se é que tem alguma...).
As duas mães foram embora e eu fiquei parada ali durante um tempinho. Verdade, eu tenho muita coisa dele. Queria poder vê-lo e passar o dia observando seus gestos, as palavras quem saem da sua boca, a marca de cerveja que gosta de tomar, se ainda escuta o cd do Pet Shop Boys, se já deixou os cd’s do Double You de lado(sempre achei cafona).
Bem, acho que já dediquei linhas demais falando nisso....

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