segunda-feira, 15 de março de 2010

Ela é carioca


Eram 4 da manhã e eu ainda me perguntava o que eu estaria fazendo naquele ônibus em plena Dutra. Estava deixando meu medo de lado, arriscando, me jogando. Assim como eu fazia quando era mais nova. A cada kilômetro que eu avançava, o medo ia e a ansiedade de chegar vinha. Pra quê? Para encontra-la. Apenas para vê-la e voltar pra casa feliz.
Às 6 da manhã vi os primeiros Outdoors da cidade, com o seu ddd 21. Já estou no Rio. Fazia tempo que eu não me sentia tão livre, tão solta. Igual nos tempos em que eu viajava de carona pelo interior de São Paulo. Cansada, cheguei na rodoviária e fui direto para o albergue. Nervosa, lavei meu corpo com águas cariocas. Estava pronta para encontrá-la. De repente o medo veio, e veio forte. No celular li a mensagem: tô chegando aí. E como uma suicida de bicicleta ela desceu a Silveira Martins. Com cabelos ao vento, de vestido, cortando os carros, dominando a rua inteira. Pensei: meu Deus, é ela! E aquela menina parou na minha frente, freando com tudo, parando com tudo. Parando meu coração. Eu , tímidamente, disse um oi, não sabia o que dizer, o que fazer. A muito tempo ninguém me tirava do meu estado letárgico como ela me tirou. Queria passar horas olhando para aquela mocinha que me fez viajar 6 horas, abandonar a segurança do meu mundo. Mas não podia me delatar assim tão fácil. Tinha uma postura a zelar. Olhava para os prédios, para os carros, para as pessoas ainda respirando o carnaval. Menos pra ela. Em vão. Eu não era eu. E assim deixei que ela me guiasse, me levasse pra onde quisesse. Onde estão minhas forças? Sumiram naquelas esquinas desconhecidas. E pensar que um dia desejei morar naquela cidade, onde as pessoas pareciam ser mais felizes, menos apressadas, com a pele dourada, hibernando o ano inteiro, esperando fevereiro chegar. Será que ali eu seria feliz? Não sei. Só sei que naqueles dois dias eu iria ser feliz. Por que me doei, porque me permiti, sem esperar nada em trocar, sem criar expectativa. Em cada bar, em cada chopp, tinha uma pontinha de felicidade. E ao lado dela me senti protegida, tranquila. Sabia que não ia acontecer nada comigo. Porém, em algumas horas teria que voltar para minha vida 220W, e então uma tristeza fina e cortante tentava se escorar em mim. Resgistrava cada sorrigo largo, cheio, aquele sotaque rasgado. Era isso que eu iria levar comigo, era isso que eu iria lembrar na viagem de volta. E eu tinha que aproveitar.
Assim que nos despedimos, senti vontade de chorar. Não queria ir embora. Mas era preciso. Um pedacinho meu coração ficou em cada passo que eu dei, em cada pingo de chuva que me molhou. Foram dois dias em que eu dormi e sonhei com a cidade e com a garota que imaginei. E agora, o que faço? Continuo a procurar aquele sorriso fácil e dominante? Mas ele está lá. O jeito é vestir minha fantasia de conformada, aceitar sem questionar a impossibilidade de tê-lo um pouco mais perto. E lembrar que a vida tem dessas coisas. E se essa saudade insistir, é só lembrar que ela é carioca..

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