sexta-feira, 17 de junho de 2011

Oh, Olivio Fernandes, você sabe o que é maconha?




Hoje, enquanto dava a notícia sobre a apreensão de carregamento da droga Oxi, Olivio Fernandes, apresentador do programa Rota 16, criticou a possibilidade de se legalizar a maconha. Talvez, na cabeça dele, maconha seja a mesma coisa que Oxi. E não se contentando em apenas criticar a legalização, criticou também a Marcha pela Liberdade, que acontecerá amanhã a partir das duas da tarde com concentração na Praça da Bandeira. Disse que todos tem liberdade de expressão, mas não para promover drogas. Bem, vamos por partes.

A maconha não é nem de longe parecida com Oxi. Primeiro que são folhas da espécie Canabis Sativa, e tem como princípio ativo o delta-9-tetrahidrocanabinolou, para os íntimos, o THC. Foi proibida e criminalizada na década de 30 nos Estados Unidos por questões econômicas e não de saúde pública. O cânhamo, fibra retirada da folha da maconha, era mais resistente e mais barato na confecção de papéis e tecidos. O tecido das velas dos barcos era feito de cânhamo. Contudo, como o cânhamo era mais barato e politicamente mais ecológico, começou a popularizar-se entre os agricultores americanos. Acontece que vários setores que vendiam papéis e tecidos começam a ter prejuízo com a chegada do novo concorrente. Era preciso agir rápido. A gota d’agua foi uma notícia divulgada nos jornais, em que dizia que um acidente grave poderia ter sido causado pelo cigarro de maconha que foi achado dentro do carro. Altamente consumida pelos jazzistas de New Orleans, a maconha foi considerada droga de negros e bandidos, que aliás, nos Estados Unidos, preto e marginal era tudo igual. Em seguida, a igreja também endossou a informação como verdadeira e demonizou a maconha. Assim, a droga entrava na criminalidade.

Já o oxi, ou oxidado, é uma mistura de pasta-base de cocaína, querosene e cal virgem, muito mais nocivo que o crack. Foi descoberto no estado do Acre e se difundiu pelo norte e nordeste do Brasil. As autoridades acham que a droga se desenvolveu na Bolívia, conhecida pela produção de cocaína. Os sintomas são muito parecidos com o do crack, como euforia e ânimo, acompanhado pelo o medo e a paranoia. Os dependentes morrem em menos de um ano após o início do consumo. Aqui no Amapá, a polícia federal já efetuou várias apreensões de Oxi, principalmente nos municípios de Santana e Laranjal do Jari.

A maconha é a droga ilícita mais consumida hoje no Brasil. E a que financia o crime organizado nas grandes cidades. Bilhões de reais já foram gastos ao longo dos anos para combater o tráfico e o consumo da droga. Trabalho de enxuga gelo. Tudo em vão.
Por anos levantou-se a possibilidade da legalização, mas o assunto sempre foi tratado com desprezo ou indiferença. Porém, no mês passado um ex-presidente da república levantou novamente a questão. Fernando Henrique Cardoso afirmou que as políticas antidrogas feitas no Brasil não surtiram efeito. “A maconha, além de ser a droga menos danosa ao organismo, é a mais consumida. Seria leviano incluir drogas mais pesadas, como a cocaína, nessa proposta” diz FHC.

Não que FHC goste de dar um tapinha na macaca,
mas é uma questão social e econômica muito importantes. Hoje, a indústria do tráfico gera cerca de US$ 322 bilhões de dólares em todo o mundo. O Brasil vive por anos as mazelas das facções espalhadas nas favelas do Rio de Janeiro e São Paulo. Pessoas inocentes morrem todos os dias em decorrência da guerra contra o tráfico. Com a legalização, o governo arrecadaria impostos, assim como acontece com o cigarro e o álcool, investiria em clínicas de reabilitação para dependentes químicos e descapitalizaria organizações criminosas. A corrupção dentro do sistema também sofreria um abalo grave, pois a fonte monetária se esvaziaria.

Mas também há quem não concorde com os argumentos dos pró-legalização. O consumo de maconha pode aumentar, aumentando também o número de viciados; mais pessoas sofrendo por conta de esquizofrenia ou outros problemas de ordem mental; argumentam também que o consumo de maconha abre portas para outras drogas. E assim, o debate ganha força, as pessoas já falam abertamente sobre o assunto, não tem medo de se expor e assumir sua postura. Uma grande parcela da população brasileira começou a entender que a tática contra o crime organizado precisa ser revista e logo. A América do Sul é o maior polo produtor de drogas do mundo e nós ,brasileiros, estamos no olho do furacão.

Tudo isso pra dizer que, quando um jornalista vai para a televisão criticar um ato democrático como a macha pela liberdade
– diga-se de passagem, defende também os negros, os homossexuais, os nordestinos, as mulheres, o deficiente físico - por contra da sua ignorância, envergonha a classe dos profissionais. Primeiro porque o seu programa já é de um péssimo gosto. E depois, de uma maneira ou de outra, seu programa incita violência. Jornalistas ou estudantes da área são responsáveis pelas informações que passam para a população. É obrigação do profissional estar bem informado para não cometer erros crassos. Agora, o discurso do jornalista ou apresentador do Rota 16, parece discurso dos anos 70 e 80, ou seja, retrógrado.

Um comentário:

Charles Chaar disse...

O tráfico de drogas sustenta o tráfico de órgãos. Gera grande mazelas como o tráfico de armas. Um dá suporte ao outro... Quem usa drogas no Brasil está contribuindo diretamente para o fortalecimento dessas redes paramilitares.
Sugeria, ao invés de marchas a favor da legalização da maconha, um boicote ao seu uso e de outras drogas ilícitas. Uma paralisação nacional. Ninguém mais indo às bocas ou revendendo... Já pensou? Sou a favor da legalização da maconha apesar de não ser usuário. Acredito que ter atitudes coerentes vai além e causa mais impacto e mudança que qualquer discurso dito como inteligente.
Quanto ao jornalista, sem comentários. Mal deve saber sobre os poderosos que financiam o crime.