domingo, 26 de setembro de 2010
Mãos Limpas de quem?
Logo nos meus primeiros posts depois que eu cheguei aqui, fiz uma crítica construtiva sobre o Estado. Onde me chamaram de “empolgada”, por ter morado em São Paulo alguns anos, e que sou parecida com um cogumelo que só se alimenta de merda e vive no escuro.
Pois bem. O teor do texto citava essa dependência que nos amarra no governo estadual. Essa falta de estrutura que por tantos anos perdura em Macapá; o descaso com que os gestores tratam as questões básicas, como educação, saúde e habitação, por exemplo. Disseram que eu peguei pesado no texto. Mas não tinha como não pegar. Com a CEA sucateada e as com constantes quedas de energia; com o asfalto da cidade que mais parece um pão com uma fina camada de manteiga; as escolas públicas sendo degradadas, e quando se prestam a reformá-las, alugam estruturas extremamente desconfortáveis, como é o caso da Escola Estadual Gonçalves Dias, no bairro do Buritizal.
Depois de dois meses, numa bela manhã de sexta feira, sabe-se o motivo do sucateamento do Estado: a suspeita de desvio de verba do setor da educação em mais R$300 milhões em contratos ainda mais suspeitos. Nomes conhecidos por nossos eleitores foram parar em Brasília para prestar depoimento, pois estavam sendo investigados a mais de um ano.
Vergonha para o Amapá. Matéria de capa do Jornal Nacional, anunciando a prisão de governador, ex-governador e o resto da quadrilha; capa dos principais sites de notícia do país. Bem, depois dessa “bomba” jogada sobre nós, provável que as consciências aflorem num momento de reflexão. Será?
Ao chegar ao Aeroporto Internacional de Macapá, Pedro Paulo Dias é carregado pelo povo, com palavras de incentivo e acalanto, onde todos sentiam junto com ele a dor da injustiça. Pessoas que estão à beira de perder seus contratos administrativos, que tem filhos pra manter na escola, que ainda tem carro pra pagar, a reforma da casa para terminar. Por que tudo gira em torno do governo, e isso incentiva atos como o episódio do Aeroporto. Vergonha pra quem? Pra nós. Eu não estou pregando uma coisa utópica como o socialismo, estou pregando honestidade, respeito com o eleitor, que perde uma manhã de domingo na fila para eleger os seus representantes.
Bem, e ainda continuam a insistir que eu sou uma “empolgada” ou frustrada por não ter nascido em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Se tivesse nascido nesses Estados sentiria do mesmo jeito pelas crianças que estão morrendo nas praças em conseqüência do consumo de crack ou das balas perdidas que matam crianças em fila de hospital.
Temos que parar com essa visão romântica que temos do nosso Estado. Existem vários problemas a serem resolvidos, mas o que falta é comprometimento dos gestores. Enquanto o amapaense depender de assessorias pomposas, cargos de confiança, contratos escandalosos, vamos continuar sendo um dos Estados mais atrasados da federação.
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