Em tempos de aumento da tarifa no transporte público na cidade de Macapá, uma pergunta muito pertinente ecoa na mente de milhares de usuários desse tipo de serviço público: os nossos ônibus são novos?
Parece uma pergunta ingênua, mas precisa ser feita, pois a nova tarifa de Macapá, que era de R$1,90 e passou para R$2,30, se equiparou com o preço de cidades como Florianópolis(R$2,90), Belo Horizonte(R$2,45), Rio de Janeiro(R$2,50), São Paulo(R$2,90) e Salvador(R$2,50). Pode ser uma comparação absurda? Nem tanto.
A frota do transporte público da cidade de Macapá é, em sua maioria, sucata de outros estados que renovaram a sua própria frota(por força de lei local) e se desfizeram da frota antiga. Prova disso, é a linha Universidade, sentido norte-sul. O ônibus trás todas as informações sobre a proibição do cigarro no interior do coletivo, falar somente o necessário com o motorista e o telefone para reclamações e sugestões com o número de...São Paulo! Os ônibus intermunicipais de São Paulo são chamados Metropolitanos. Viagens de São Paulo para Guarulhos, Osasco e Barueri são feitas nesses ônibus. E em outra reencarnação, a linha Universidade, um dia já foi um Metropolitano. A diferença é que a entrada em São Paulo é pela frente e em Macapá é por trás. Quando chegam aqui, são reformados, pintados e adaptados para a realidade local. Os poucos ônibus adaptados para cadeirantes, na maioria das vezes não funcionam, o que alimenta a impaciência do motorista e do cobrador em atender o deficiente físico. Mais comum ainda é ver os estofados desgastados ou furados, os encostos dos acentos(aquela borrachinha) rasgados e o teto rachado. Agora como pagar uma tarifa por uma frota de oficina de fundo de quintal(com todo respeito ao grupo de samba)?
Se esse fosse o único problema, os munícipes não estariam tão insatisfeitos. O tempo de espera no ponto não é menos que vinte minutos, em horário de pico. Depois das sete da noite, a frota é reduzida e esse intervalo pula para, no mínimo, quarenta minutos. Nos fins de semana o transtorno é ainda maior. Bairros como Nova esperança, Santa Inês e Goiabal simplesmente não possuem uma única linha que passe por suas ruas, obrigando o passageiro a andar bons quarteirões, debaixo de sol ou de chuva.
A falta de planejamento das rotas dos coletivos é outro descaso. As sete principais faculdades da capital estão espalhadas tanto no sentido norte-sul como leste-oeste. Por exemplo, quem mora nos Congós e estuda na Faculdade Fama, não tem a opção de utilizar apenas uma condução, precisa obrigatoriamente se deslocar até o centro da cidade e pegar outro coletivo para chegar até à Lagoa dos índios. Ou quem mora no santa Inês e estuda na Unifap, precisa andar até a Leopoldo Machado e pegar o ônibus. Diversas linhas fazem o mesmo trajeto, danificando ainda mais as ruas da cidade e congestionando o trânsito. Outra característica da deficiência do setor são empresas que não dispõe de um sistema para controlar a chegada e saída das linhas dos seus terminais. É comum ver duas linhas Buritizal/são camilo passando ao mesmo tempo, ou Brasil novo Universidade passarem coladinhos. Advinha quem sofre com essa demora?
Em grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, as tarifas são justificadas com os investimentos e organização por parte do setor responsável. Macapá é três vezes maior que a favela da Rocinha, com seus quase 200 mil habitantes a maior da América Latina. Então como as empresas daqui explicam esse aumento? Constante manutenção da frota por consequência das más condições das vias da cidade? Claro, com a lataria que chega das grandes cidades, seu destino certo é estar em constantes reparos ou remendos. Assim, o macapaense deixa sua casa todos os dias em direção ao trabalho para fim do mês ver seu salário diminuído em função de um serviço indigno do cansaço e do suor de quem é obrigado a usar o transporte público da capital. Por que vivemos nesse círculo vicioso, pois afinal, em todos os aumentos de tarifas anteriormente ocorridas, sempre a justificativa foi a renovação da frota? E desta, qual será?
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