quinta-feira, 18 de agosto de 2011

ônibus bom é ônibus remendado


Em tempos de aumento da tarifa no transporte público na cidade de Macapá, uma pergunta muito pertinente ecoa na mente de milhares de usuários desse tipo de serviço público: os nossos ônibus são novos?

Parece uma pergunta ingênua, mas precisa ser feita, pois a nova tarifa de Macapá, que era de R$1,90 e passou para R$2,30, se equiparou com o preço de cidades como Florianópolis(R$2,90), Belo Horizonte(R$2,45), Rio de Janeiro(R$2,50), São Paulo(R$2,90) e Salvador(R$2,50). Pode ser uma comparação absurda? Nem tanto.

A frota do transporte público da cidade de Macapá é, em sua maioria, sucata de outros estados que renovaram a sua própria frota(por força de lei local) e se desfizeram da frota antiga. Prova disso, é a linha Universidade, sentido norte-sul. O ônibus trás todas as informações sobre a proibição do cigarro no interior do coletivo, falar somente o necessário com o motorista e o telefone para reclamações e sugestões com o número de...São Paulo! Os ônibus intermunicipais de São Paulo são chamados Metropolitanos. Viagens de São Paulo para Guarulhos, Osasco e Barueri são feitas nesses ônibus. E em outra reencarnação, a linha Universidade, um dia já foi um Metropolitano. A diferença é que a entrada em São Paulo é pela frente e em Macapá é por trás. Quando chegam aqui, são reformados, pintados e adaptados para a realidade local. Os poucos ônibus adaptados para cadeirantes, na maioria das vezes não funcionam, o que alimenta a impaciência do motorista e do cobrador em atender o deficiente físico. Mais comum ainda é ver os estofados desgastados ou furados, os encostos dos acentos(aquela borrachinha) rasgados e o teto rachado. Agora como pagar uma tarifa por uma frota de oficina de fundo de quintal(com todo respeito ao grupo de samba)?

Se esse fosse o único problema, os munícipes não estariam tão insatisfeitos. O tempo de espera no ponto não é menos que vinte minutos, em horário de pico. Depois das sete da noite, a frota é reduzida e esse intervalo pula para, no mínimo, quarenta minutos. Nos fins de semana o transtorno é ainda maior. Bairros como Nova esperança, Santa Inês e Goiabal simplesmente não possuem uma única linha que passe por suas ruas, obrigando o passageiro a andar bons quarteirões, debaixo de sol ou de chuva.

A falta de planejamento das rotas dos coletivos é outro descaso. As sete principais faculdades da capital estão espalhadas tanto no sentido norte-sul como leste-oeste. Por exemplo, quem mora nos Congós e estuda na Faculdade Fama, não tem a opção de utilizar apenas uma condução, precisa obrigatoriamente se deslocar até o centro da cidade e pegar outro coletivo para chegar até à Lagoa dos índios. Ou quem mora no santa Inês e estuda na Unifap, precisa andar até a Leopoldo Machado e pegar o ônibus. Diversas linhas fazem o mesmo trajeto, danificando ainda mais as ruas da cidade e congestionando o trânsito. Outra característica da deficiência do setor são empresas que não dispõe de um sistema para controlar a chegada e saída das linhas dos seus terminais. É comum ver duas linhas Buritizal/são camilo passando ao mesmo tempo, ou Brasil novo Universidade passarem coladinhos. Advinha quem sofre com essa demora?

Em grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, as tarifas são justificadas com os investimentos e organização por parte do setor responsável. Macapá é três vezes maior que a favela da Rocinha, com seus quase 200 mil habitantes a maior da América Latina. Então como as empresas daqui explicam esse aumento? Constante manutenção da frota por consequência das más condições das vias da cidade? Claro, com a lataria que chega das grandes cidades, seu destino certo é estar em constantes reparos ou remendos. Assim, o macapaense deixa sua casa todos os dias em direção ao trabalho para fim do mês ver seu salário diminuído em função de um serviço indigno do cansaço e do suor de quem é obrigado a usar o transporte público da capital. Por que vivemos nesse círculo vicioso, pois afinal, em todos os aumentos de tarifas anteriormente ocorridas, sempre a justificativa foi a renovação da frota? E desta, qual será?

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